Gazeta Médica da Bahia, No 79 (143)

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HISTORIA NATURAL DA INFECÇÃO CAUSADA POR LEISHMANIA CHAGASI EM CÃES (CANIS FAMILIARES) DOMICILIADOS EM ÁREA ENDÊMICA DA ILHA DE SÃO LUIS – MARANHÃO, BRASIL

Arnaldo M. Garcia, José Manuel M. Rebelo, Arlene Caldas, Regis Gomes, Vera Vinhas, Aldina Barral, Antonio Augusto M. Silva, Jackson M.L. Costa

Resumo


Realizou-se um estudo de coorte prospectivo com 350 cães com idades variadas nas localidades de Vila Nova e Bom
Viver no município da Raposa-MA no período de março de 2002 a janeiro de 2003, com o objetivo de avaliar o
comportamento da evolução natural da infecção por L. (L.) chagasi em cães domiciliados. As áreas escolhidas são
resultantes do processo de ocupação desordenada, contribuindo em média com 60% dos casos notificados de LVH e
LVC pelo município. Procedeu-se inicialmente com o inquérito populacional nas duas localidades por meio do censo
canino. O estudo ocorreu em duas fases, com intervalo de 7 meses entre as mesmas. Na primeira fase participaram
do estudo 350 cães, e por meio de visita nas casas aplicou-se um questionário com dados epidemiológicos, demográficos,
clínicos e comportamentais dos cães. Realizou-se o teste de intradermorreação de Montenegro (IDRM) com antígeno
de L. amazonensis adequado para cães e o teste sorológico Enzyme Linked Immunsorbent Assay (ELISA) para a
detecção da infecção bem como o exame clínico e parasitológico dos animais positivos para os testes IDRM e/ou
ELISA. A partir de parâmetros clínico e imunológico já referido na literatura, foram definidas quatro categorias de
diagnóstico, classificando os cães segundo o seu curso evolutivo em cães não infectados (195), infectados ou
assintomáticos (100), doente oligossintomático (41) e doente polissintomático (14). A segunda fase foi realizada com
aplicação dos mesmos testes da primeira fase com 230 cães, essa redução deveu-se em função das perdas (36,28%)
ocasionadas por óbitos, mudança de endereço e desaparecidos. Os cães positivos para um ou ambos os testes foram
acompanhados bimestralmente com reavaliação dos exames clínicos. A evolução natural da infecção demonstrou
aumento do grupo de animais não infectados (55,71%/64,58%), de doentes (15,71%/17,04%) e a redução do grupo de
infectados ou assintomáticos, face a cura espontânea de 39% dos animais nesse estágio. A prevalência inicial, final
e incidência da infecção foram 8,57%, 6,52% e 8% por IDRM; por ELISA 39,71%, 32,6% e 16%; por ELISA e IDRM
44,29%, 37,39% e 21,6% respectivamente. A taxa de prevalência inicial, final e incidência detectados por Elisa foram
mais significativos do que por IDRM. Quanto à forma clínica, os resultados dos cães positivos apresentaram-se da
seguinte maneira: infectados ou assintomáticos (64,53%), doente oligossintomático (26,47%) e doente
polissintomático (9%). Os achados permitiu-nos inferir que, na área endêmica estudada a infecção canina ocorre
inicialmente com maior intensidade que a infecção humana, entretanto após sete meses da infecção canina instalada,
o risco de desenvolvimento da infecção humana foi bem maior que a canina, e após o convívio entre ambos infectados,
observou-se semelhança de comportamento, contudo chamou-nos a atenção o processo de adoecimento dos cães, a
sua ocorrência se deu quatro vezes mais que a doença no homem. Os dados foram analisados pelo programa EPIINFO
versão 6.4 da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Palavras-chave: leishmaniose visceral canina, infectados, prevalência, incidência, infecção.

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