Gazeta Médica da Bahia, No 2 (140)

Tamanho da fonte:  Menor  Médio  Maior

Mortalidade e Fatores Prognósticos da Insuficiência Cardíaca em Salvador, Bahia

Adriana Lopes Latado

Resumo


A insuficiência cardíaca é um problema de saúde pública, sendo a principal causa de internação na população ? 65 anos. Apesar dos avanços tecnológicos e terapêuticos, trata-se ainda de uma condição de elevada mortalidade. A identificação de fatores prognósticos propicia melhor entendimento dos aspectos fisiopatológicos da doença e condução terapêutica mais adequada. Objetivos: estudar a tendência temporal da mortalidade por insuficiência cardíaca na Região Metropolitana de Salvador, Bahia, de 1979 a 1995; identificar potenciais preditores de mortalidade hospitalar em pacientes internados por insuficiência cardíaca avançada e descompensada; investigar o papel da anemia no risco de mortalidade hospitalar de pacientes com insuficiência cardíaca avançada. Métodos: Este trabalho foi realizado em duas etapas. O primeiro artigo estudou a tendência de mortalidade por insuficiência cardíaca no período de 1979 a 1995. Os dados anuais sobre óbitos e população de Salvador foram obtidos na Secretaria de Saúde da Bahia e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Considerou-se apenas a causa primária da morte. Insuficiência cardíaca foi definida pelos códigos 428.0, 428.1 e 428.9 (CID9). Os dois artigos seguintes foram estudos de caráter observacional e prospectivo, com amostragem consecutiva de pacientes internados por insuficiência cardíaca crônica descompensada em unidade de terapia intensiva de junho/2001 a dezembro/2003. A definição de insuficiência cardíaca foi primariamente clínica. O desfecho clínico principal foi mortalidade hospitalar, e as variáveis independentes incluídas nas análises foram obtidas na admissão. A análise estatística consistiu de: no primeiro estudo, padronização direta para ajuste das taxas por idade e regressão linear simples para estimativa da variação média anual nas taxas; no segundo e terceiro estudos, estatística descritiva, análise estratificada e modelos de regressão logística múltipla. Resultados: A taxa de mortalidade por insuficiência cardíaca passou de 25/105 habitantes em 1979 para 16,4/105 habitantes em 1995 (declínio médio anual foi de 0,9/105 habitantes). As curvas bruta e ajustada de mortalidade mostraram queda progressiva das taxas até 1992, havendo estabilização dos valores de 1992-1995. Esta tendência foi uniforme para ambos os gêneros. Na amostra de pacientes internados na unidade de terapia intensiva por insuficiência cardíaca avançada, a idade média foi 69±13 anos, 46% eram do sexo feminino e houve alta freqüência de diabetes mellitus, hipertensão arterial e doença arterial coronariana (37,5%, 78% e 58,5%, respectivamente). Anemia foi um achado freqüente (47,5%). A mortalidade hospitalar foi 17,4%. Após análise multivariada exploratória, idade ? 70 anos, história prévia de acidente vascular encefálico (AVE), disfunção renal, hiponatremia e fibrilação atrial se associaram a maior mortalidade hospitalar. Após análise estatística confirmatória, anemia associouse independentemente com maior risco de morte hospitalar em pacientes com insuficiência cardíaca grave (risco relativo=2,3; intervalo de confiança 95% 1,3-3,9), para qualquer nível de fração de ejeção ventricular esquerda. Conclusões: A mortalidade por insuficiência cardíaca em Salvador diminuiu no período de 1979-1992, estabilizando-se de 1992-1995, para ambos os gêneros. Características como idade avançada, passado de AVE, fibrilação atrial, hiponatremia ou insuficiência renal à admissão foram potenciais fatores de risco para mortalidade hospitalar em pacientes internados com insuficiência cardíaca grave. Anemia à admissão, após análise multivariada confirmatória, foi um preditor independente de mortalidade hospitalar em insuficiência cardíaca avançada, para qualquer nível de fração de ejeção do ventrículo esquerdo.
Palavras-chave: insuficiência cardíaca, mortalidade, epidemiologia, fatores de risco, mortalidade hospitalar, anemia, disfunção ventricular esquerda.

Texto Completo: PDF